1 Palavras do pregador,
filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade
de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
3 Que proveito
tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
4 Uma geraçäo
vai, e outra geraçäo vem; mas a terra para sempre permanece.
5 Nasce o
sol, e o sol se pöe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
6 O vento
vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando
o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
7 Todos os
rios väo para o mar, e contudo o mar näo se enche; ao lugar para
onde os rios väo, para ali tornam eles a correr.
8 Todas as
coisas säo trabalhosas; o homem näo o pode exprimir; os olhos
näo se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que foi, isso
é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de
modo que nada há de novo debaixo do sol.
10 Há
alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já
foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
11 Já
näo há lembrança das coisas que precederam, e das coisas
que häo de ser também delas näo haverá lembrança,
entre os que häo de vir depois.
12 Eu, o pregador,
fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei
o meu coraçäo a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria
de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupaçäo
deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
14 Atentei
para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade
e afliçäo de espírito.
15 Aquilo
que é torto näo se pode endireitar; aquilo que falta näo
se pode calcular.
16 Falei eu
com o meu coraçäo, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei
em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o
meu coraçäo contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento.
17 E apliquei
o meu coraçäo a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios
e as loucuras, e vim a saber que também isto era afliçäo
de espírito.
18 Porque
na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento,
aumenta em dor.
1 Disse eu no meu
coraçäo: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza
o prazer; mas eis que também isso era vaidade.
2 Ao riso
disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta?
3 Busquei
no meu coraçäo como estimular com vinho a minha carne (regendo
porém o meu coraçäo com sabedoria), e entregar-me à
loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem
debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida.
4 Fiz para
mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim
vinhas.
5 Fiz para
mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie
de fruto.
6 Fiz para
mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam
as árvores.
7 Adquiri
servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes
possessöes de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes
de mim em Jerusalém.
8 Amontoei
também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias;
provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens;
e de instrumentos de música de toda a espécie.
9 E fui engrandecido,
e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém;
perseverou também comigo a minha sabedoria.
10 E tudo
quanto desejaram os meus olhos näo lhes neguei, nem privei o meu coraçäo
de alegria alguma; mas o meu coraçäo se alegrou por todo o
meu trabalho, e esta foi a minha porçäo de todo o meu trabalho.
11 E olhei
eu para todas as obras que fizeram as minhas mäos, como também
para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade
e afliçäo de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo
do sol.
12 Entäo passei
a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará
o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram.
13 Entäo
vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia,
quanto a luz é mais excelente do que as trevas.
14 Os olhos
do homem sábio estäo na sua cabeça, mas o louco anda
em trevas; entäo também entendi eu que o mesmo lhes sucede
a ambos.
15 Assim eu
disse no meu coraçäo: Como acontece ao tolo, assim me sucederá
a mim; por que entäo busquei eu mais a sabedoria? Entäo disse
no meu coraçäo que também isto era vaidade.
16 Porque
nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo;
porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá.
E como morre o sábio, assim morre o tolo!
17 Por isso odiei
esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim,
tudo é vaidade e afliçäo de espírito.
18 Também
eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu
havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim.
19 E quem
sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará
de todo o meu trabalho que realizei e em que me houve sabiamente debaixo
do sol; também isto é vaidade.
20 Entäo
eu me volvi e entreguei o meu coraçäo ao desespero no tocante
ao trabalho, o qual realizei debaixo do sol.
21 Porque
há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, conhecimento,
e destreza; contudo deixará o seu trabalho como porçäo
de quem nele näo trabalhou; também isto é vaidade e
grande mal.
22 Porque,
que mais tem o homem de todo o seu trabalho, e da afliçäo do
seu coraçäo, em que ele anda trabalhando debaixo do sol?
23 Porque
todos os seus dias säo dores, e a sua ocupaçäo é
afliçäo; até de noite näo descansa o seu coraçäo;
também isto é vaidade.
24 Näo
há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que
sua alma goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da
mäo de Deus.
25 Pois quem
pode comer, ou quem pode gozar melhor do que eu?
26 Porque
ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento
e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe,
para dá-lo ao que é bom perante Deus. Também isto
é vaidade e afliçäo de espírito.
1 Tudo tem o seu
tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo
do céu.
2 Há
tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar
o que se plantou;
3 Tempo de
matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4 Tempo de
chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 Tempo de
espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e
tempo de afastar-se de abraçar;
6 Tempo de
buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7 Tempo de
rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 Tempo de
amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
9 Que proveito
tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto
o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.
11 Tudo fez formoso
em seu tempo; também pós o mundo no coraçäo do
homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio
até ao fim.
12 Já
tenho entendido que näo há coisa melhor para eles do que alegrar-se
e fazer bem na sua vida;
13 E também
que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto
é um dom de Deus.
14 Eu sei
que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar,
e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele.
15 O que é,
já foi; e o que há de ser, também já foi; e
Deus pede conta do que passou.
16 Vi mais debaixo
do sol que no lugar do juízo havia impiedade, e no lugar da justiça
havia iniqüidade.
17 Eu disse
no meu coraçäo: Deus julgará o justo e o ímpio;
porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.
18 Disse eu
no meu coraçäo, quanto a condiçäo dos filhos dos
homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que säo
em si mesmos como os animais.
19 Porque
o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos
animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro;
e todos têm o mesmo fólego, e a vantagem dos homens sobre
os animais näo é nenhuma, porque todos säo vaidade.
20 Todos väo
para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltaräo ao
pó.
21 Quem sabe
que o fólego do homem vai para cima, e que o fólego dos animais
vai para baixo da terra?
22 Assim que
tenho visto que näo há coisa melhor do que alegrar-se o homem
nas suas obras, porque essa é a sua porçäo; pois quem
o fará voltar para ver o que será depois dele?
1 Depois voltei-me,
e atentei para todas as opressöes que se fazem debaixo do sol; e eis
que vi as lágrimas dos que foram oprimidos e dos que näo têm
consolador, e a força estava do lado dos seus opressores; mas eles
näo tinham consolador.
2 Por isso
eu louvei os que já morreram, mais do que os que vivem ainda.
3 E melhor
que uns e outros é aquele que ainda näo é; que näo
viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
4 Também
vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, traz ao homem a
inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e afliçäo
de espírito.
5 O tolo cruza
as suas mäos, e come a sua própria carne.
6 Melhor é
a mäo cheia com descanso do que ambas as mäos cheias com trabalho,
e afliçäo de espírito.
7 Outra vez me voltei,
e vi vaidade debaixo do sol.
8 Há
um que é só, e näo tem ninguém, nem tampouco
filho nem irmäo; e contudo näo cessa do seu trabalho, e também
seus olhos näo se satisfazem com riqueza; nem diz: Para quem trabalho
eu, privando a minha alma do bem? Também isto é vaidade e
enfadonha ocupaçäo.
9 Melhor é
serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
10 Porque
se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só;
pois, caindo, näo haverá outro que o levante.
11 Também,
se dois dormirem juntos, eles se aquentaräo; mas um só, como
se aquentará?
12 E, se alguém
prevalecer contra um, os dois lhe resistiräo; e o cordäo de três
dobras näo se quebra täo depressa.
13 Melhor é
a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que
näo se deixa mais admoestar.
14 Porque
um sai do cárcere para reinar; enquanto outro, que nasceu em seu
reino, torna-se pobre.
15 Vi a todos
os viventes andarem debaixo do sol com a criança, a sucessora, que
ficará no seu lugar.
16 Näo
tem fim todo o povo que foi antes dele; tampouco os que lhe sucederem se
alegraräo dele. Na verdade que também isto é vaidade
e afliçäo de espírito.
1 Guarda o teu pé,
quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor
do que oferecer sacrifícios de tolos, pois näo sabem que fazem
mal.
2 Näo
te precipites com a tua boca, nem o teu coraçäo se apresse
a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos
céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas
palavras.
3 Porque,
da muita ocupaçäo vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidäo
das palavras.
4 Quando a Deus
fizeres algum voto, näo tardes em cumpri-lo; porque näo se agrada
de tolos; o que votares, paga-o.
5 Melhor é
que näo votes do que votares e näo cumprires.
6 Näo
consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante
do anjo que foi erro; por que razäo se iraria Deus contra a tua voz,
e destruiria a obra das tuas mäos?
7 Porque,
como na multidäo dos sonhos há vaidades, assim também
nas muitas palavras; mas tu teme a Deus.
8 Se vires
em alguma província opressäo do pobre, e violência do
direito e da justiça, näo te admires de tal procedimento; pois
quem está altamente colocado tem superior que o vigia; e há
mais altos do que eles.
9
O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo.
10 Quem amar
o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundáncia
nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.
11 Onde os
bens se multiplicam, ali se multiplicam também os que deles comem;
que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os ver com os seus
olhos?
12 Doce é
o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico
näo o deixa dormir.
13 Há
um grave mal que vi debaixo do sol, e atrai enfermidades: as riquezas que
os seus donos guardam para o seu próprio dano;
14 Porque
as mesmas riquezas se perdem por qualquer má ventura, e havendo
algum filho nada lhe fica na sua mäo.
15 Como saiu
do ventre de sua mäe, assim nu tornará, indo-se como veio;
e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mäo.
16 Assim que
também isto é um grave mal que, justamente como veio, assim
há de ir; e que proveito lhe vem de trabalhar para o vento,
17 E de haver
comido todos os seus dias nas trevas, e de haver padecido muito enfado,
e enfermidade, e furor?
18 Eis aqui
o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem
de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias
de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua porçäo.
19 E a todo
o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer
e tomar a sua porçäo, e gozar do seu trabalho, isto é
dom de Deus.
20 Porque
näo se lembrará muito dos dias da sua vida; porquanto Deus
lhe enche de alegria o seu coraçäo.
1 Há
um mal que tenho visto debaixo do sol, e é mui freqüente entre
os homens:
2 Um homem
a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto
a sua alma deseja, e Deus näo lhe dá poder para daí
comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e
má enfermidade.
3 Se o homem
gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos,
e se a sua alma näo se fartar do bem, e além disso näo
tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele.
4 Porquanto
debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome.
5 E ainda
que nunca viu o sol, nem conheceu nada, mais descanso tem este do que aquele.
6 E, ainda
que vivesse duas vezes mil anos e näo gozasse o bem, näo väo
todos para um mesmo lugar?
7 Todo o trabalho
do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu espírito.
8 Porque,
que mais tem o sábio do que o tolo? E que mais tem o pobre que sabe
andar perante os vivos?
9 Melhor é
a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isto
é vaidade e afliçäo de espírito.
10 Seja qualquer
o que for, já o seu nome foi nomeado, e sabe-se que é homem,
e que näo pode contender com o que é mais forte do que ele.
11 Na verdade
que há muitas coisas que multiplicam a vaidade; que mais tem o homem
de melhor?
12 Pois, quem
sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua
vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem
o que será depois dele debaixo do sol?
1 Melhor é
a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia
do nascimento de alguém.
2 Melhor é
ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há
banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos
o aplicam ao seu coraçäo.
3 Melhor é
a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor
o coraçäo.
4 O coraçäo
dos sábios está na casa do luto, mas o coraçäo
dos tolos na casa da alegria.
5 Melhor é
ouvir a repreensäo do sábio, do que ouvir alguém a cançäo
do tolo.
6 Porque qual
o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo;
também isto é vaidade.
7 Verdadeiramente
que a opressäo faria endoidecer até ao sábio, e o suborno
corrompe o coraçäo.
8 Melhor é
o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente
de espírito do que o altivo de espírito.
9 Näo
te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira repousa no íntimo
dos tolos.
10 Nunca digas:
Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque näo provém
da sabedoria esta pergunta.
11 Täo
boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os
que vêem o sol.
12 Porque
a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência
do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.
13 Atenta
para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez
torto?
14 No dia
da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque
também Deus fez a este em oposiçäo àquele, para
que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.
15 Tudo isto
vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça,
e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade.
16 Näo
sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te
destruirias a ti mesmo?
17 Näo
sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora
de teu tempo?
18 Bom é
que retenhas isto, e também daquilo näo retires a tua mäo;
porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.
19 A sabedoria
fortalece ao sábio, mais do que dez poderosos que haja na cidade.
20 Na verdade
que näo há homem justo sobre a terra, que faça o bem,
e nunca peque.
21 Tampouco
apliques o teu coraçäo a todas as palavras que se disserem,
para que näo venhas a ouvir o teu servo amaldiçoar-te.
22 Porque
o teu coraçäo também já confessou que muitas
vezes tu amaldiçoaste a outros.
23 Tudo isto
provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda
estava longe de mim.
24 O que já
sucedeu é remoto e profundíssimo; quem o achará?
25 Eu apliquei
o meu coraçäo para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria
e a razäo das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez
e que a estultícia é loucura.
26 E eu achei
uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coraçäo
säo redes e laços, e cujas mäos säo ataduras; quem
for bom diante de Deus escapará dela, mas o pecador virá
a ser preso por ela.
27 Vedes aqui,
isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa com a outra para achar
a razäo delas;
28 A qual
ainda busca a minha alma, porém ainda näo a achei; um homem
entre mil achei eu, mas uma mulher entre todas estas näo achei.
29 Eis aqui,
o que täo-somente achei: que Deus fez ao homem recto, porém
eles buscaram muitas astúcias.
1 Quem é
como o sábio? E quem sabe a interpretaçäo das coisas?
A sabedoria do homem faz brilhar o seu rosto, e a dureza do seu rosto se
muda.
2 Eu digo:
Observa o mandamento do rei, e isso em consideraçäo ao juramento
que fizeste a Deus.
3 Näo
te apresses a sair da presença dele, nem persistas em alguma coisa
má, porque ele faz tudo o que quer.
4 Porque a
palavra do rei tem poder; e quem lhe dirá: Que fazes?
5 Quem guardar
o mandamento näo experimentará nenhum mal; e o coraçäo
do sábio discernirá o tempo e o juízo.
6 Porque para
todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a
miséria do homem pesa sobre ele.
7 Porque näo
sabe o que há de suceder, e quando há de ser, quem lho dará
a entender?
8 Nenhum homem
há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter;
nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; como também näo
há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará
aos ímpios.
9 Tudo isto
vi quando apliquei o meu coraçäo a toda a obra que se faz debaixo
do sol; tempo há em que um homem tem domínio sobre outro
homem, para desgraça sua.
10 Assim também
vi os ímpios, quando os sepultavam; e eles entravam, e saíam
do lugar santo; e foram esquecidos na cidade, em que assim fizeram; também
isso é vaidade.
11 Porquanto
näo se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso
o coraçäo dos filhos dos homens está inteiramente disposto
para fazer o mal.
12 Ainda que
o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, contudo
eu sei com certeza, que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temem
diante dele.
13 Porém
o ímpio näo irá bem, e ele näo prolongará
os seus dias, que säo como a sombra; porque ele näo teme diante
de Deus.
14 Ainda há
outra vaidade que se faz sobre a terra: que há justos a quem sucede
segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede
segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade.
15 Entäo
louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo
do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará
no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do
sol.
16 Aplicando
eu o meu coraçäo a conhecer a sabedoria, e a ver o trabalho
que há sobre a terra (que nem de dia nem de noite vê o homem
sono nos seus olhos);
17 Entäo
vi toda a obra de Deus, que o homem näo pode perceber, a obra que
se faz debaixo do sol, por mais que trabalhe o homem para a descobrir,
näo a achará; e, ainda que diga o sábio que a conhece,
nem por isso a poderá compreender.
1 Deveras todas
estas coisas considerei no meu coraçäo, para declarar tudo
isto: que os justos, e os sábios, e as suas obras, estäo nas
mäos de Deus, e também o homem näo conhece nem o amor
nem o ódio; tudo passa perante ele.
2 Tudo sucede
igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e
ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que näo sacrifica;
assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
3 Este é
o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede
o mesmo; e que também o coraçäo dos filhos dos homens
está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coraçäo
enquanto vivem, e depois se väo aos mortos.
4 Ora, para
aquele que está entre os vivos há esperança (porque
melhor é o cäo vivo do que o leäo morto).
5 Porque os
vivos sabem que häo de morrer, mas os mortos näo sabem coisa
nenhuma, nem tampouco teräo eles recompensa, mas a sua memória
fica entregue ao esquecimento.
6 Também
o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já
näo têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se
faz debaixo do sol.
7 Vai, pois,
come com alegria o teu päo e bebe com coraçäo contente
o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.
8 Em todo
o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a
tua cabeça.
9 Goza a vida
com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vä, os quais Deus
te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é
a tua porçäo nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste
debaixo do sol.
10 Tudo quanto
te vier à mäo para fazer, faze-o conforme as tuas forças,
porque na sepultura, para onde tu vais, näo há obra nem projeto,
nem conhecimento, nem sabedoria alguma.
11 Voltei-me,
e vi debaixo do sol que näo é dos ligeiros a carreira, nem
dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o päo, nem tampouco
dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que
o tempo e a oportunidade ocorrem a todos.
12 que também
o homem näo sabe o seu tempo; assim como os peixes que se pescam com
a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço,
assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo,
quando cai de repente sobre eles.
13 Também
vi esta sabedoria debaixo do sol, que para mim foi grande:
14 Houve uma
pequena cidade em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande
rei, e a cercou e levantou contra ela grandes baluartes;
15 E encontrou-se
nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria,
e ninguém se lembrava daquele pobre homem.
16 Entäo
disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força, ainda que
a sabedoria do pobre foi desprezada, e as suas palavras näo foram
ouvidas.
17 As palavras
dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor
do que domina entre os tolos.
18 Melhor
é a sabedoria do que as armas de guerra, porém um só
pecador destrói muitos bens.
1 Assim como
as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o ungüento do
perfumador, assim é, para o famoso em sabedoria e em honra, um pouco
de estultícia.
2 O coraçäo
do sábio está à sua direita, mas o coraçäo
do tolo está à sua esquerda.
3 E, até
quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o seu entendimento e diz a todos
que é tolo.
4 Levantando-se
contra ti o espírito do governador, näo deixes o teu lugar,
porque a submissäo é um remédio que aplaca grandes ofensas.
5 Ainda há
um mal que vi debaixo do sol, como o erro que procede do governador.
6 A estultícia
está posta em grandes alturas, mas os ricos estäo assentados
em lugar baixo.
7 Vi os servos
a cavalo, e os príncipes andando sobre a terra como servos.
8 Quem abrir
uma cova, nela cairá, e quem romper um muro, uma cobra o morderá.
9 Aquele que
transporta pedras, será maltratado por elas, e o que rachar lenha
expöe-se ao perigo.
10 Se estiver
embotado o ferro, e näo se afiar o corte, entäo se deve redobrar
a força; mas a sabedoria é excelente para dirigir.
11 Seguramente
a serpente morderá antes de estar encantada, e o falador näo
é melhor.
12 Nas palavras
da boca do sábio há favor, porém os lábios
do tolo o devoram.
13 O princípio
das palavras da sua boca é a estultícia, e o fim do seu falar
um desvario péssimo.
14 O tolo
multiplica as palavras, porém, o homem näo sabe o que será;
e quem lhe fará saber o que será depois dele?
15 O trabalho
dos tolos a cada um deles fatiga, porque näo sabem como ir à
cidade.
16 Ai de ti,
ó terra, quando seu rei é uma criança, e cujos príncipes
comem de manhä.
17 Bem-aventurada
tu, ó terra, quando seu rei é filho dos nobres, e seus príncipes
comem a tempo, para se fortalecerem, e näo para bebedice.
18 Por muita
preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidäo das mäos
a casa goteja.
19 Para rir
se fazem banquetes, e o vinho produz alegria, e por tudo o dinheiro responde.
20 Nem ainda
no teu pensamento amaldiçoes ao rei, nem tampouco no mais interior
da tua recámara amaldiçoes ao rico; porque as aves dos céus
levariam a voz, e os que têm asas dariam notícia do assunto.
1 Lança
o teu päo sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
2 Reparte
com sete, e ainda até com oito, porque näo sabes que mal haverá
sobre a terra.
3 Estando
as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e caindo a árvore
para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará.
4 Quem observa
o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
5 Assim como
tu näo sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos
no ventre da mulher grávida, assim também näo sabes
as obras de Deus, que faz todas as coisas.
6 Pela manhä
semeia a tua semente, e à tarde näo retires a tua mäo,
porque tu näo sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou
se ambas seräo igualmente boas.
7 Certamente
suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
8 Porém,
se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também
se deve lembrar dos dias das trevas, porque häo de ser muitos. Tudo
quanto sucede é vaidade.
9 Alegra-te,
jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coraçäo nos dias
da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coraçäo, e pela
vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te
trará Deus a juízo.
10 Afasta,
pois, a ira do teu coraçäo, e remove da tua carne o mal, porque
a adolescência e a juventude säo vaidade.
1 Lembra-te
também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham
os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Näo tenho
neles contentamento;
2 Antes que
se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a
vir as nuvens depois da chuva;
3 No dia em
que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem
os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham
pelas janelas;
4 E as portas
da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar
à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.
5 Como também
quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer
a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o
homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andaräo rodeando
pela praça;
6 Antes que
se rompa o cordäo de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace
o cántaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
7 E o pó
volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que
o deu.
8 Vaidade
de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
9 E, quanto
mais sábio foi o pregador, tanto mais ensinou ao povo sabedoria;
e atentando, e esquadrinhando, compós muitos provérbios.
10 Procurou
o pregador achar palavras agradáveis; e escreveu-as com retidäo,
palavras de verdade.
11 As palavras
dos sábios säo como aguilhöes, e como pregos, bem fixados
pelos mestres das assembléias, que nos foram dadas pelo único
Pastor.
12 E, demais
disto, filho meu, atenta: näo há limite para fazer livros,
e o muito estudar é enfado da carne.
13 De tudo
o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos;
porque isto é o dever de todo o homem.
14 Porque
Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo
o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.