CAPITULOS
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1 Entäo alguns
que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmäos: Se
näo vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, näo podeis
salvar-vos.
2 Tendo tido Paulo
e Barnabé näo pequena discussäo e contenda contra eles,
resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem
a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciäos, sobre aquela
questäo.
3 E eles, sendo
acompanhados pela igreja, passavam pela Fenícia e por Samaria, contando
a conversäo dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmäos.
4 E, quando chegaram
a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos
e anciäos, e lhes anunciaram quäo grandes coisas Deus tinha feito
com eles.
5 Alguns, porém,
da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era
mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés.
6 Congregaram-se,
pois, os apóstolos e os anciäos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande
contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmäos, bem sabeis
que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para
que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem.
8 E Deus, que conhece
os coraçöes, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito
Santo, assim como também a nós;
9 E näo fez
diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus coraçöes
pela fé.
10 Agora, pois,
por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo
que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que
seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.
12 Entäo toda
a multidäo se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam
quäo grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles
entre os gentios.
13 E, havendo-se
eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: Homens irmäos, ouvi-me:
14 Simäo relatou
como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para
o seu nome.
15 E com isto concordam
as palavras dos profetas; como está escrito:
16 Depois disto
voltarei, E reedificarei o tabernáculo de Davi, que está
caído, Levantá-lo-ei das suas ruínas, E tornarei a
edificá-lo.
17 Para que o restante
dos homens busque ao Senhor, E todos os gentios, sobre os quais o meu nome
é invocado, Diz o Senhor, que faz todas estas coisas,
18 Conhecidas säo
a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras.
19 Por isso julgo
que näo se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem
a Deus.
20 Mas escrever-lhes
que se abstenham das contaminaçöes dos ídolos, da prostituiçäo,
do que é sufocado e do sangue.
21 Porque Moisés,
desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado
é lido nas sinagogas.
22 Entäo pareceu
bem aos apóstolos e aos anciäos, com toda a igreja, eleger
homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia,
a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre
os irmäos.
23 E por intermédio
deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os anciäos e os
irmäos, aos irmäos dentre os gentios que estäo em Antioquia,
e Síria e Cilícia, saúde.
24 Porquanto ouvimos
que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras,
e transtornaram as vossas almas, dizendo que deveis circuncidar-vos e guardar
a lei, näo lhes tendo nós dado mandamento,
25 Pareceu-nos bem,
reunidos concordemente, eleger alguns homens e enviá-los com os
nossos amados Barnabé e Paulo,
26 Homens que já
expuseram as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27 Enviamos, portanto,
Judas e Silas, os quais por palavra vos anunciaräo também as
mesmas coisas.
28 Na verdade pareceu
bem ao Espírito Santo e a nós, näo vos impor mais encargo
algum, senäo estas coisas necessárias:
29 Que vos abstenhais
das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada,
e da prostituiçäo, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes.
Bem vos vá.
30 Tendo eles entäo
se despedido, partiram para Antioquia e, ajuntando a multidäo, entregaram
a carta.
31 E, quando a leram,
alegraram-se pela exortaçäo.
32 Depois Judas
e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmäos
com muitas palavras.
33 E, detendo-se
ali algum tempo, os irmäos os deixaram voltar em paz para os apóstolos;
34 Mas pareceu bem
a Silas ficar ali.
35 E Paulo e Barnabé
ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a palavra
do Senhor.
36 E alguns dias
depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmäos
por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para
ver como estäo.
37 E Barnabé
aconselhava que tomassem consigo a Joäo, chamado Marcos.
38 Mas a Paulo parecia
razoável que näo tomassem consigo aquele que desde a Panfília
se tinha apartado deles e näo os acompanhou naquela obra.
39 E tal contenda
houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando
consigo a Marcos, navegou para Chipre.
40 E Paulo, tendo
escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmäos à graça
de Deus.
41 E passou pela
Síria e Cilícia, confirmando as igrejas.
Capitulo 16
1 E chegou a Derbe
e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo,
filho de uma judia que era crente, mas de pai grego;
2 Do qual davam
bom testemunho os irmäos que estavam em Listra e em Icónio.
3 Paulo quis que
este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que
estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.
4 E, quando iam
passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos
que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciäos em
Jerusalém.
5 De sorte que as
igrejas eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número.
6 E, passando pela
Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos
pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Asia.
7 E, quando chegaram
a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito
näo lho permitiu.
8 E, tendo passado
por Mísia, desceram a Tróade.
9 E Paulo teve de
noite uma visäo, em que se apresentou um homem da Macedónia,
e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedónia, e ajuda-nos.
10 E, logo depois
desta visäo, procuramos partir para a Macedónia, concluindo
que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho.
11 E, navegando
de Tróade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia
e, no dia seguinte, para Neápolis;
12 E dali para Filipos,
que é a primeira cidade desta parte da Macedónia, e é
uma colónia; e estivemos alguns dias nesta cidade.
13 E no dia de sábado
saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer
oraçäo; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali
se ajuntaram.
14 E uma certa mulher,
chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira,
e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coraçäo
para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.
15 E, depois que
foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que
eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali. E nos constrangeu
a isso.
16 E aconteceu que,
indo nós à oraçäo, nos saiu ao encontro uma jovem,
que tinha espírito de adivinhaçäo, a qual, adivinhando,
dava grande lucro aos seus senhores.
17 Esta, seguindo
a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam
o caminho da salvaçäo, säo servos do Deus Altíssimo.
18 E isto fez ela
por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito:
Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu.
19 E, vendo seus
senhores que a esperança do seu lucro estava perdida, prenderam
Paulo e Silas, e os levaram à praça, à presença
dos magistrados.
20 E, apresentando-os
aos magistrados, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa
cidade,
21 E nos expöem
costumes que näo nos é lícito receber nem praticar,
visto que somos romanos.
22 E a multidäo
se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes,
mandaram açoitá-los com varas.
23 E, havendo-lhes
dado muitos açoites, os lançaram na prisäo, mandando
ao carcereiro que os guardasse com segurança.
24 O qual, tendo
recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes
segurou os pés no tronco.
25 E, perto da meia-noite,
Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam.
26 E de repente
sobreveio um täo grande terremoto, que os alicerces do cárcere
se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisöes
de todos.
27 E, acordando
o carcereiro, e vendo abertas as portas da prisäo, tirou a espada,
e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido.
28 Mas Paulo clamou
com grande voz, dizendo: Näo te faças nenhum mal, que todos
aqui estamos.
29 E, pedindo luz,
saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas.
30 E, tirando-os
para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça
para me salvar?
31 E eles disseram:
Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.
32 E lhe pregavam
a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa.
33 E, tomando-os
ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergöes; e
logo foi batizado, ele e todos os seus.
34 E, levando-os
à sua casa, lhes pós a mesa; e, na sua crença em Deus,
alegrou-se com toda a sua casa.
35 E, sendo já
dia, os magistrados mandaram quadrilheiros, dizendo: Soltai aqueles homens.
36 E o carcereiro
anunciou a Paulo estas palavras, dizendo: Os magistrados mandaram que vos
soltasse; agora, pois, saí e ide em paz.
37 Mas Paulo replicou:
Açoitaram-nos publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens
romanos, nos lançaram na prisäo, e agora encobertamente nos
lançam fora? Näo será assim; mas venham eles mesmos
e tirem-nos para fora.
38 E os quadrilheiros
foram dizer aos magistrados estas palavras; e eles temeram, ouvindo que
eram romanos.
39 E, vindo, lhes
dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem
da cidade.
40 E, saindo da
prisäo, entraram em casa de Lídia e, vendo os irmäos,
os confortaram, e depois partiram.
Capitulo 17
1 E passando por
Anfípolis e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde
havia uma sinagoga de judeus.
2 E Paulo, como
tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou
com eles sobre as Escrituras,
3 Expondo e demonstrando
que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E
este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo.
4 E alguns deles
creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidäo
de gregos religiosos, e näo poucas mulheres principais.
5 Mas os judeus
desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos,
dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando
a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo.
6 E, näo os
achando, trouxeram Jasom e alguns irmäos à presença
dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado
o mundo, chegaram também aqui;
7 Os quais Jasom
recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo
que há outro rei, Jesus.
8 E alvoroçaram
a multidäo e os principais da cidade, que ouviram estas coisas.
9 Tendo, porém,
recebido satisfaçäo de Jasom e dos demais, os soltaram.
10 E logo os irmäos
enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá,
foram à sinagoga dos judeus.
11 Ora, estes foram
mais nobres do que os que estavam em Tessalónica, porque de bom
grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas
coisas eram assim.
12 De sorte que
creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e
näo poucos homens.
13 Mas, logo que
os judeus de Tessalónica souberam que a palavra de Deus também
era anunciada por Paulo em Beréia, foram lá, e excitaram
as multidöes.
14 No mesmo instante
os irmäos mandaram a Paulo que fosse até ao mar, mas Silas
e Timóteo ficaram ali.
15 E os que acompanhavam
Paulo o levaram até Atenas, e, recebendo ordem para que Silas e
Timóteo fossem ter com ele o mais depressa possível, partiram.
16 E, enquanto Paulo
os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo
a cidade täo entregue à idolatria.
17 De sorte que
disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça
com os que se apresentavam.
18 E alguns dos
filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns
diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador
de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreiçäo.
19 E tomando-o,
o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova
doutrina é essa de que falas?
20 Pois coisas estranhas
nos trazes aos ouvidos; queremos, pois, saber o que vem a ser isto
21 (Pois todos os
atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam,
senäo de dizer e ouvir alguma novidade).
22 E, estando Paulo
no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo
um tanto supersticiosos;
23 Porque, passando
eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em
que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais,
näo o conhecendo, é o que eu vos anuncio.
24 O Deus que fez
o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra,
näo habita em templos feitos por mäos de homens;
25 Nem tampouco
é servido por mäos de homens, como que necessitando de alguma
coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiraçäo,
e todas as coisas;
26 E de um só
sangue fez toda a geraçäo dos homens, para habitar sobre toda
a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os
limites da sua habitaçäo;
27 Para que buscassem
ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que näo
está longe de cada um de nós;
28 Porque nele vivemos,
e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas
disseram: Pois somos também sua geraçäo.
29 Sendo nós,
pois, geraçäo de Deus, näo havemos de cuidar que a divindade
seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida
por artifício e imaginaçäo dos homens.
30 Mas Deus, näo
tendo em conta os tempos da ignoráncia, anuncia agora a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam;
31 Porquanto tem
determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo,
por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o
dentre os mortos.
32 E, como ouviram
falar da ressurreiçäo dos mortos, uns escarneciam, e outros
diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.
33 E assim Paulo
saiu do meio deles.
34 Todavia, chegando
alguns homens a ele, creram; entre os quais foi Dionísio, areopagita,
uma mulher por nome Dámaris, e com eles outros.
Capitulo 18
1 E depois disto
partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto.
2 E, achando um
certo judeu por nome Aqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha
vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha
mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles,
3 E, como era do
mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício
fazer tendas.
4 E todos os sábados
disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos.
5 E, quando Silas
e Timóteo desceram da Macedónia, foi Paulo impulsionado no
espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo.
6 Mas, resistindo
e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja
sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os
gentios.
7 E, saindo dali,
entrou em casa de um homem chamado Tício Justo, que servia a Deus,
e cuja casa estava junto da sinagoga.
8 E Crispo, principal
da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios,
ouvindo-o, creram e foram batizados.
9 E disse o Senhor
em visäo a Paulo: Näo temas, mas fala, e näo te cales;
10 Porque eu sou
contigo, e ninguém lançará mäo de ti para te
fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
11 E ficou ali um
ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
12 Mas, sendo Gálio
procónsul da Acaia, levantaram-se os judeus concordemente contra
Paulo, e o levaram ao tribunal,
13 Dizendo: Este
persuade os homens a servir a Deus contra a lei.
14 E, querendo Paulo
abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus,
algum agravo ou crime enorme, com razäo vos sofreria,
15 Mas, se a questäo
é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há,
vede-o vós mesmos; porque eu näo quero ser juiz dessas coisas.
16 E expulsou-os
do tribunal.
17 Entäo todos
os gregos agarraram Sóstenes, principal da sinagoga, e o feriram
diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o incomodava.
18 E Paulo, ficando
ainda ali muitos dias, despediu-se dos irmäos, e dali navegou para
a Síria, e com ele Priscila e Aqüila, tendo rapado a cabeça
em Cencréia, porque tinha voto.
19 E chegou a Éfeso,
e deixou-os ali; mas ele, entrando na sinagoga, disputava com os judeus.
20 E, rogando-lhe
eles que ficasse por mais algum tempo, näo conveio nisso.
21 Antes se despediu
deles, dizendo: É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem
em Jerusalém; mas querendo Deus, outra vez voltarei a vós.
E partiu de Éfeso.
22 E, chegando a
Cesaréia, subiu a Jerusalém e, saudando a igreja, desceu
a Antioquia.
23 E, estando ali
algum tempo, partiu, passando sucessivamente pela província da Galácia
e da Frígia, confirmando a todos os discípulos.
24 E chegou a Éfeso
um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente
e poderoso nas Escrituras.
25 Este era instruído
no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava
diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de Joäo.
26 Ele começou
a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Aqüila,
o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.
27 Querendo ele
passar à Acaia, o animaram os irmäos, e escreveram aos discípulos
que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela
graça criam.
28 Porque com grande
veemência, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras
que Jesus era o Cristo.
Capitulo 19
1 E sucedeu que,
enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiöes
superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos,
2 Disse-lhes: Recebestes
vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe:
Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.
3 Perguntou-lhes,
entäo: Em que sois batizados entäo? E eles disseram: No batismo
de Joäo.
4 Mas Paulo disse:
Certamente Joäo batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao
povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em
Jesus Cristo.
5 E os que ouviram
foram batizados em nome do Senhor Jesus.
6 E, impondo-lhes
Paulo as mäos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam
línguas, e profetizavam.
7 E estes eram,
ao todo, uns doze homens.
8 E, entrando na
sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando
e persuadindo-os acerca do reino de Deus.
9 Mas, como alguns
deles se endurecessem e näo obedecessem, falando mal do Caminho perante
a multidäo, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando
todos os dias na escola de um certo Tirano.
10 E durou isto
por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam
na Asia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos.
11 E Deus pelas
mäos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.
12 De sorte que
até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos,
e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam.
13 E alguns dos
exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre
os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus
a quem Paulo prega.
14 E os que faziam
isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes.
15 Respondendo,
porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus,
e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois?
16 E, saltando neles
o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de todos,
póde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram
daquela casa.
17 E foi isto notório
a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu
temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
18 E muitos dos
que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos.
19 Também
muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e
os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço,
acharam que montava a cinqüenta mil peças de prata.
20 Assim a palavra
do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
21 E, cumpridas
estas coisas, Paulo propós, em espírito, ir a Jerusalém,
passando pela Macedónia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver
estado ali, importa-me ver também Roma.
22 E, enviando à
Macedónia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto,
ficou ele por algum tempo na Asia.
23 E, naquele mesmo
tempo, houve um näo pequeno alvoroço acerca do Caminho.
24 Porque um certo
ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de
Diana, dava näo pouco lucro aos artífices,
25 Aos quais, havendo-os
ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós
bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade;
26 E bem vedes e
ouvis que näo só em Éfeso, mas até quase em toda
a Asia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidäo,
dizendo que näo säo deuses os que se fazem com as mäos.
27 E näo somente
há o perigo de que a nossa profissäo caia em descrédito,
mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana
seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela
que toda a Asia e o mundo veneram.
28 E, ouvindo-o,
encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios.
29 E encheu-se de
confusäo toda a cidade e, unánimes, correram ao teatro, arrebatando
a Gaio e a Aristarco, macedónios, companheiros de Paulo na viagem.
30 E, querendo Paulo
apresentar-se ao povo, näo lho permitiram os discípulos.
31 E também
alguns dos principais da Asia, que eram seus amigos, lhe rogaram que näo
se apresentasse no teatro.
32 Uns, pois, clamavam
de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os
mais deles näo sabiam por que causa se tinham ajuntado.
33 Entäo tiraram
Alexandre dentre a multidäo, impelindo-o os judeus para diante; e
Alexandre, acenando com a mäo, queria dar razäo disto ao povo.
34 Mas quando conheceram
que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço
de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios.
35 Entäo o
escriväo da cidade, tendo apaziguado a multidäo, disse: Homens
efésios, qual é o homem que näo sabe que a cidade dos
efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e
da imagem que desceu de Júpiter?
36 Ora, näo
podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais
temerariamente;
37 Porque estes
homens que aqui trouxestes nem säo sacrílegos nem blasfemam
da vossa deusa.
38 Mas, se Demétrio
e os artífices que estäo com ele têm alguma coisa contra
alguém, há audiências e há procónsules;
que se acusem uns aos outros;
39 E, se alguma
outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítima assembléia.
40 Na verdade até
corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sediçäo,
näo havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso.
41 E, tendo dito
isto, despediu a assembléia.
Capitulo 20
1 E, depois que cessou
o alvoroço, Paulo chamou a si os discípulos e, abraçando-os,
saiu para a Macedónia.
2 E, havendo andado
por aquelas terras, exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia.
3 E, passando ali
três meses, e sendo-lhe pelos judeus postas ciladas, como tivesse
de navegar para a Síria, determinou voltar pela Macedónia.
4 E acompanhou-o,
até à Asia, Sópater, de Beréia, e, dos de Tessalónica,
Aristarco, e Segundo, e Gaio de Derbe, e Timóteo, e, dos da Asia,
Tíquico e Trófimo.
5 Estes, indo adiante,
nos esperaram em Tróade.
6 E, depois dos
dias dos päes ázimos, navegamos de Filipos, e em cinco dias
fomos ter com eles a Tróade, onde estivemos sete dias.
7 E no primeiro
dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o päo,
Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou
a prática até à meia-noite.
8 E havia muitas
luzes no cenáculo onde estavam juntos.
9 E, estando um
certo jovem, por nome Éutico, assentado numa janela, caiu do terceiro
andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso
de Paulo; e foi levantado morto.
10 Paulo, porém,
descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Näo
vos perturbeis, que a sua alma nele está.
11 E subindo, e
partindo o päo, e comendo, ainda lhes falou largamente até
à alvorada; e assim partiu.
12 E levaram vivo
o jovem, e ficaram näo pouco consolados.
13 Nós, porém,
subindo ao navio, navegamos até Assós, onde devíamos
receber a Paulo, porque assim o ordenara, indo ele por terra.
14 E, logo que se
ajuntou conosco em Assós, o recebemos, e fomos a Mitilene.
15 E, navegando
dali, chegamos no dia seguinte defronte de Quios, e no outro aportamos
a Samos e, ficando em Trogílio, chegamos no dia seguinte a Mileto.
16 Porque já
Paulo tinha determinado passar ao largo de Éfeso, para näo
gastar tempo na Asia. Apressava-se, pois, para estar, se lhe fosse possível,
em Jerusalém no dia de Pentecostes.
17 E de Mileto mandou
a Éfeso, a chamar os anciäos da igreja.
18 E, logo que chegaram
junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em
que entrei na Asia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós,
19 Servindo ao Senhor
com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentaçöes,
que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 Como nada, que
útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas
casas,
21 Testificando,
tanto aos judeus como aos gregos, a conversäo a Deus, e a fé
em nosso Senhor Jesus Cristo.
22 E agora, eis
que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, näo
sabendo o que lá me há de acontecer,
23 Senäo o
que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que
me esperam prisöes e tribulaçöes.
24 Mas em nada tenho
a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira,
e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do
evangelho da graça de Deus.
25 E agora, na verdade,
sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, näo
vereis mais o meu rosto.
26 Portanto, no
dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque nunca
deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
28 Olhai, pois,
por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue.
29 Porque eu sei
isto que, depois da minha partida, entraräo no meio de vós
lobos cruéis, que näo pouparäo ao rebanho;
30 E que de entre
vós mesmos se levantaräo homens que falaräo coisas perversas,
para atraírem os discípulos após si.
31 Portanto, vigiai,
lembrando-vos de que durante três anos, näo cessei, noite e
dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
32 Agora, pois,
irmäos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça;
a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre
todos os santificados.
33 De ninguém
cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário.
34 Sim, vós
mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que
estäo comigo, estas mäos me serviram.
35 Tenho-vos mostrado
em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os
enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada
coisa é dar do que receber.
36 E, havendo dito
isto, pós-se de joelhos, e orou com todos eles.
37 E levantou-se
um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de
Paulo, o beijavam,
38 Entristecendo-se
muito, principalmente pela palavra que dissera, que näo veriam mais
o seu rosto. E acompanharam-no até o navio.
Capitulo 21
1 E aconteceu que,
separando-nos deles, navegamos e fomos correndo caminho direito, e chegamos
a Cós, e no dia seguinte a Rodes, de onde passamos a Pátara.
2 E, achando um
navio, que ia para a Fenícia, embarcamos nele, e partimos.
3 E, indo já
à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, navegamos para
a Síria e chegamos a Tiro; porque o navio havia de ser descarregado
ali.
4 E, achando discípulos,
ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que näo
subisse a Jerusalém.
5 E, havendo passado
ali aqueles dias, saímos, e seguimos nosso caminho, acompanhando-nos
todos, com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos
de joelhos na praia, oramos.
6 E, despedindo-nos
uns dos outros, subimos ao navio; e eles voltaram para suas casas.
7 E nós,
concluída a navegaçäo de Tiro, viemos a Ptolemaida;
e, havendo saudado os irmäos, ficamos com eles um dia.
8 E no dia seguinte,
partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos
a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista,
que era um dos sete, ficamos com ele.
9 E tinha este quatro
filhas virgens, que profetizavam.
10 E, demorando-nos
ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Agabo;
11 E, vindo ter
conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés
e mäos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligaräo
os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o
entregaräo nas mäos dos gentios.
12 E, ouvindo nós
isto, rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que
näo subisse a Jerusalém.
13 Mas Paulo respondeu:
Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coraçäo? Porque
eu estou pronto näo só a ser ligado, mas ainda a morrer em
Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
14 E, como näo
podíamos convencê-lo, nos aquietamos, dizendo: Faça-se
a vontade do Senhor.
15 E depois daqueles
dias, havendo feito os nossos preparativos, subimos a Jerusalém.
16 E foram também
conosco alguns discípulos de Cesaréia, levando consigo um
certo Mna-som, cíprio, discípulo antigo, com quem havíamos
de hospedar-nos.
17 E, logo que chegamos
a Jerusalém, os irmäos nos receberam de muito boa vontade.
18 E no dia seguinte,
Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciäos vieram ali.
19 E, havendo-os
saudado, contou-lhes por miúdo o que por seu ministério Deus
fizera entre os gentios.
20 E, ouvindo-o
eles, glorificaram ao Senhor, e disseram-lhe: Bem vês, irmäo,
quantos milhares de judeus há que crêem, e todos säo
zeladores da lei.
21 E já acerca
de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estäo entre
os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que näo devem
circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei.
22 Que faremos pois?
em todo o caso é necessário que a multidäo se ajunte;
porque teräo ouvido que já és vindo.
23 Faze, pois, isto
que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto.
24 Toma estes contigo,
e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça,
e todos ficaräo sabendo que nada há daquilo de que foram informados
acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei.
25 Todavia, quanto
aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito,
e achado por bem, que nada disto observem; mas que só se guardem
do que se sacrifica aos ídolos, e do sangue, e do sufocado e da
prostituiçäo.
26 Entäo Paulo,
tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já
santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificaçäo;
e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta.
27 E quando os sete
dias estavam quase a terminar, os judeus da Asia, vendo-o no templo, alvoroçaram
todo o povo e lançaram mäo dele,
28 Clamando: Homens
israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina
a todos contra o povo e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto,
introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo lugar.
29 Porque tinham
visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, o qual pensavam
que Paulo introduzira no templo.
30 E alvoroçou-se
toda a cidade, e houve grande concurso de povo; e, pegando Paulo, o arrastaram
para fora do templo, e logo as portas se fecharam.
31 E, procurando
eles matá-lo, chegou ao tribuno da coorte o aviso de que Jerusalém
estava toda em confusäo;
32 O qual, tomando
logo consigo soldados e centuriöes, correu para eles. E, quando viram
o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo.
33 Entäo, aproximando-se
o tribuno, o prendeu e o mandou atar com duas cadeias, e lhe perguntou
quem era e o que tinha feito.
34 E na multidäo
uns clamavam de uma maneira, outros de outra; mas, como nada podia saber
ao certo, por causa do alvoroço, mandou conduzi-lo para a fortaleza.
35 E sucedeu que,
chegando às escadas, os soldados tiveram de lhe pegar por causa
da violência da multidäo.
36 Porque a multidäo
do povo o seguia, clamando: Mata-o!
37 E, quando iam
a introduzir Paulo na fortaleza, disse Paulo ao tribuno: É-me permitido
dizer-te alguma coisa? E ele disse: Sabes o grego?
38 Näo és
tu porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sediçäo
e levou ao deserto quatro mil salteadores?
39 Mas Paulo lhe
disse: Na verdade que sou um homem judeu, cidadäo de Tarso, cidade
näo pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém,
que me permitas falar ao povo.
40 E, havendo-lho
permitido, Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mäo
ao povo; e, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica,
dizendo:
Capitulo 22
1 Homens, irmäos
e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós
2 (E, quando ouviram
falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram).
E disse:
3 Quanto a mim,
sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos
pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos
pais, zeloso de Deus, como todos vós hoje sois.
4 E persegui este
caminho até à morte, prendendo, e pondo em prisöes,
tanto homens como mulheres,
5 Como também
o sumo sacerdote me é testemunha, e todo o conselho dos anciäos.
E, recebendo destes cartas para os irmäos, fui a Damasco, para trazer
maniatados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que
fossem castigados.
6 Ora, aconteceu
que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao
meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu.
7 E caí por
terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
8 E eu respondi:
Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues.
9 E os que estavam
comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito, mas näo
ouviram a voz daquele que falava comigo.
10 Entäo disse
eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te, e vai a Damasco,
e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer.
11 E, como eu näo
via, por causa do esplendor daquela luz, fui levado pela mäo dos que
estavam comigo, e cheguei a Damasco.
12 E um certo Ananias,
homem piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus
que ali moravam,
13 Vindo ter comigo,
e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmäo, recobra a vista. E naquela
mesma hora o vi.
14 E ele disse:
O Deus de nossos pais de antemäo te designou para que conheças
a sua vontade, e vejas aquele Justo e ouças a voz da sua boca.
15 Porque hás
de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido.
16 E agora por que
te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando
o nome do Senhor.
17 E aconteceu que,
tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado
para fora de mim.
18 E vi aquele que
me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém;
porque näo receberäo o teu testemunho acerca de mim.
19 E eu disse: Senhor,
eles bem sabem que eu lançava na prisäo e açoitava nas
sinagogas os que criam em ti.
20 E quando o sangue
de Estêväo, tua testemunha, se derramava, também eu estava
presente, e consentia na sua morte, e guardava as capas dos que o matavam.
21 E disse-me: Vai,
porque hei de enviar-te aos gentios de longe.
22 E ouviram-no
até esta palavra, e levantaram a voz, dizendo: Tira da terra um
tal homem, porque näo convém que viva.
23 E, clamando eles,
e arrojando de si as vestes, e lançando pó para o ar,
24 O tribuno mandou
que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem com açoites,
para saber por que causa assim clamavam contra ele.
25 E, quando o estavam
atando com correias, disse Paulo ao centuriäo que ali estava: É-vos
lícito açoitar um romano, sem ser condenado?
26 E, ouvindo isto,
o centuriäo foi, e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais
fazer, porque este homem é romano.
27 E, vindo o tribuno,
disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim.
28 E respondeu o
tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadäo.
Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento.
29 E logo dele se
apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor,
quando soube que era romano, visto que o tinha ligado.
30 E no dia seguinte,
querendo saber ao certo a causa por que era acusado pelos judeus, soltou-o
das prisöes, e mandou vir os principais dos sacerdotes, e todo o seu
conselho; e, trazendo Paulo, o apresentou diante deles.
Capitulo 23
1 E, pondo Paulo
os olhos no conselho, disse: Homens irmäos, até ao dia de hoje
tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência.
2 Mas o sumo sacerdote,
Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca.
3 Entäo Paulo
lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui
assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir?
4 E os que ali estavam
disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus?
5 E Paulo disse:
Näo sabia, irmäos, que era o sumo sacerdote; porque está
escrito: Näo dirás mal do príncipe do teu povo.
6 E Paulo, sabendo
que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho:
Homens irmäos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à
esperança e ressurreiçäo dos mortos sou julgado.
7 E, havendo dito
isto, houve dissensäo entre os fariseus e saduceus; e a multidäo
se dividiu.
8 Porque os saduceus
dizem que näo há ressurreiçäo, nem anjo, nem espírito;
mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.
9 E originou-se
um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam,
dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou
anjo lhe falou, näo lutemos contra Deus.
10 E, havendo grande
dissensäo, o tribuno, temendo que Paulo fosse despedaçado por
eles, mandou descer a soldadesca, para que o tirassem do meio deles, e
o levassem para a fortaleza.
11 E na noite seguinte,
apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ánimo; porque, como
de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques
também em Roma.
12 E, quando já
era dia, alguns dos judeus fizeram uma conspiraçäo, e juraram,
dizendo que näo comeriam nem beberiam enquanto näo matassem a
Paulo.
13 E eram mais de
quarenta os que fizeram esta conjuraçäo.
14 E estes foram
ter com os principais dos sacerdotes e anciäos, e disseram: Conjuramo-nos,
sob pena de maldiçäo, a nada provarmos até que matemos
a Paulo.
15 Agora, pois,
vós, com o conselho, rogai ao tribuno que vo-lo traga amanhä,
como que querendo saber mais alguma coisa de seus negócios, e, antes
que chegue, estaremos prontos para o matar.
16 E o filho da
irmä de Paulo, tendo ouvido acerca desta cilada, foi, e entrou na
fortaleza, e o anunciou a Paulo.
17 E Paulo, chamando
a si um dos centuriöes, disse: Leva este jovem ao tribuno, porque
tem alguma coisa que lhe comunicar.
18 Tomando-o ele,
pois, o levou ao tribuno, e disse: O preso Paulo, chamando-me a si, rogou-me
que trouxesse este jovem, que tem alguma coisa para dizer-te.
19 E o tribuno,
tomando-o pela mäo, e pondo-se à parte, perguntou-lhe em particular:
Que tens que me contar?
20 E disse ele:
Os judeus se concertaram rogar-te que amanhä leves Paulo ao conselho,
como que tendo de inquirir dele mais alguma coisa ao certo.
21 Mas tu näo
os creias; porque mais de quarenta homens de entre eles lhe andam armando
ciladas; os quais se obrigaram, sob pena de maldiçäo, a näo
comer nem beber até que o tenham morto; e já estäo apercebidos,
esperando de ti promessa.
22 Entäo o
tribuno despediu o jovem, mandando-lhe que a ninguém dissesse que
lhe havia contado aquilo.
23 E, chamando dois
centuriöes, lhes disse: Aprontai para as três horas da noite
duzentos soldados, e setenta de cavalaria, e duzentos arqueiros para irem
até Cesaréia;
24 E aparelhai cavalgaduras,
para que, pondo nelas a Paulo, o levem salvo ao presidente Félix.
25 E escreveu uma
carta, que continha isto:
26 Cláudio
Lísias, a Félix, potentíssimo presidente, saúde.
27 Esse homem foi
preso pelos judeus; e, estando já a ponto de ser morto por eles,
sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei, informado de que era romano.
28 E, querendo saber
a causa por que o acusavam, o levei ao seu conselho.
29 E achei que o
acusavam de algumas questöes da sua lei; mas que nenhum crime havia
nele digno de morte ou de prisäo.
30 E, sendo-me notificado
que os judeus haviam de armar ciladas a esse homem, logo to enviei, mandando
também aos acusadores que perante ti digam o que tiverem contra
ele. Passa bem.
31 Tomando, pois,
os soldados a Paulo, como lhe fora mandado, o trouxeram de noite a Antipátride.
32 E no dia seguinte,
deixando aos de cavalo irem com ele, tornaram à fortaleza.
33 Os quais, logo
que chegaram a Cesaréia, e entregaram a carta ao presidente, lhe
apresentaram Paulo.
34 E o presidente,
lida a carta, perguntou de que província era; e, sabendo que era
da Cilícia,
35 Disse: Ouvir-te-ei,
quando também aqui vierem os teus acusadores. E mandou que o guardassem
no pretório de Herodes.
Capitulo 24
1 E, cinco dias depois,
o sumo sacerdote Ananias desceu com os anciäos, e um certo Tértulo,
orador, os quais compareceram perante o presidente contra Paulo.
2 E, sendo chamado,
Tértulo começou a acusá-lo, dizendo: Visto como por
ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos
e louváveis serviços,
3 Sempre e em todo
o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento
o queremos reconhecer.
4 Mas, para que
näo te detenha muito, rogo-te que, conforme a tua eqüidade, nos
ouças por pouco tempo.
5 Temos achado que
este homem é uma peste, e promotor de sediçöes entre
todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos
nazarenos;
6 O qual intentou
também profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme a
nossa lei o quisemos julgar.
7 Mas, sobrevindo
o tribuno Lísias, no-lo tirou de entre as mäos com grande violência,
8 Mandando aos seus
acusadores que viessem a ti; e dele tu mesmo, examinando-o, poderás
entender tudo o de que o acusamos.
9 E também
os judeus o acusavam, dizendo serem estas coisas assim.
10 Paulo, porém,
fazendo-lhe o presidente sinal que falasse, respondeu: Porque sei que já
vai para muitos anos que desta naçäo és juiz, com tanto
melhor ánimo respondo por mim.
11 Pois bem podes
saber que näo há mais de doze dias que subi a Jerusalém
a adorar;
12 E näo me
acharam no templo falando com alguém, nem amotinando o povo nas
sinagogas, nem na cidade.
13 Nem tampouco
podem provar as coisas de que agora me acusam.
14 Mas confesso-te
isto que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus
de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.
15 Tendo esperança
em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver
ressurreiçäo de mortos, assim dos justos como dos injustos.
16 E por isso procuro
sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para
com os homens.
17 Ora, muitos anos
depois, vim trazer à minha naçäo esmolas e ofertas.
18 Nisto me acharam
já santificado no templo, näo em ajuntamentos, nem com alvoroços,
uns certos judeus da Asia,
19 Os quais convinha
que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra
mim tivessem.
20 Ou digam estes
mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante
o conselho,
21 A näo ser
estas palavras que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós
acerca da ressurreiçäo dos mortos.
22 Entäo Félix,
havendo ouvido estas coisas, lhes pós dilaçäo, dizendo:
Havendo-me informado melhor deste Caminho, quando o tribuno Lísias
tiver descido, entäo tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios.
23 E mandou ao centuriäo
que o guardasse em prisäo, tratando-o com brandura, e que a ninguém
dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele.
24 E alguns dias
depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou
chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo.
25 E, tratando ele
da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro,
Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade
te chamarei.
26 Esperando ao
mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, para que o soltasse; pelo que
também muitas vezes o mandava chamar, e falava com ele.
27 Mas, passados
dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo; e, querendo
Félix comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.
Capitulo 25
1 Entrando, pois,
Festo na província, subiu dali a três dias de Cesaréia
a Jerusalém.
2 E o sumo sacerdote
e os principais dos judeus compareceram perante ele contra Paulo, e lhe
rogaram,
3 Pedindo como favor
contra ele que o fizesse vir a Jerusalém, armando ciladas para o
matarem no caminho.
4 Mas Festo respondeu
que Paulo estava guardado em Cesaréia, e que ele brevemente partiria
para lá.
5 Os que, pois,
disse, dentre vós, têm poder, desçam comigo e, se neste
homem houver algum crime, acusem-no.
6 E, havendo-se
demorado entre eles mais de dez dias, desceu a Cesaréia; e no dia
seguinte, assentando-se no tribunal, mandou que trouxessem Paulo.
7 E, chegando ele,
rodearam-no os judeus que haviam descido de Jerusalém, trazendo
contra Paulo muitas e graves acusaçöes, que näo podiam
provar.
8 Mas ele, em sua
defesa, disse: Eu näo pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus,
nem contra o templo, nem contra César.
9 Todavia Festo,
querendo comprazer aos judeus, respondendo a Paulo, disse: Queres tu subir
a Jerusalém, e ser lá perante mim julgado acerca destas coisas?
10 Mas Paulo disse:
Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado;
näo fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes.
11 Se fiz algum
agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, näo recuso morrer;
mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém
me pode entregar a eles; apelo para César.
12 Entäo Festo,
tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César? para
César irás.
13 E, passados alguns
dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar Festo.
14 E, como ali ficassem
muitos dias, Festo contou ao rei os negócios de Paulo, dizendo:
Um certo homem foi deixado por Félix aqui preso,
15 Por cujo respeito
os principais dos sacerdotes e os anciäos dos judeus, estando eu em
Jerusalém, compareceram perante mim, pedindo sentença contra
ele.
16 Aos quais respondi
näo ser costume dos romanos entregar algum homem à morte, sem
que o acusado tenha presentes os seus acusadores, e possa defender-se da
acusaçäo.
17 De sorte que,
chegando eles aqui juntos, no dia seguinte, sem fazer dilaçäo
alguma, assentado no tribunal, mandei que trouxessem o homem.
18 Acerca do qual,
estando presentes os acusadores, nenhuma coisa apontaram daquelas que eu
suspeitava.
19 Tinham, porém,
contra ele algumas questöes acerca da sua superstiçäo,
e de um tal Jesus, morto, que Paulo afirmava viver.
20 E, estando eu
perplexo acerca da inquiriçäo desta causa, disse se queria
ir a Jerusalém, e lá ser julgado acerca destas coisas.
21 E, apelando Paulo
para que fosse reservado ao conhecimento de Augusto, mandei que o guardassem
até que o envie a César.
22 Entäo Agripa
disse a Festo: Bem quisera eu também ouvir esse homem. E ele disse:
Amanhä o ouvirás.
23 E, no dia seguinte,
vindo Agripa e Berenice, com muito aparato, entraram no auditório
com os tribunos e homens principais da cidade, sendo trazido Paulo por
mandado de Festo.
24 E Festo disse:
Rei Agripa, e todos os senhores que estais presentes conosco; aqui vedes
um homem de quem toda a multidäo dos judeus me tem falado, tanto em
Jerusalém como aqui, clamando que näo convém que viva
mais.
25 Mas, achando
eu que nenhuma coisa digna de morte fizera, e apelando ele mesmo também
para Augusto, tenho determinado enviar-lho.
26 Do qual näo
tenho coisa alguma certa que escreva ao meu senhor, e por isso perante
vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para
que, depois de interrogado, tenha alguma coisa que escrever.
27 Porque me parece
contra a razäo enviar um preso, e näo notificar contra ele as
acusaçöes.
Capitulo 26
1 Depois Agripa disse
a Paulo: E permitido que te defendas. Entäo Paulo, estendendo a mäo
em sua defesa, respondeu:
2 Tenho-me por feliz,
ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas
as coisas de que sou acusado pelos judeus;
3 Mormente sabendo
eu que tens conhecimento de todos os costumes e questöes que há
entre os judeus; por isso te rogo que me ouças com paciência.
4 Quanto à
minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre
os da minha naçäo, em Jerusalém, todos os judeus a conhecem,
5 Sabendo de mim
desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais
severa seita da nossa religiäo, vivi fariseu.
6 E agora pela esperança
da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado.
7 Å qual as
nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite
e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos
judeus.
8 Pois quê?
julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os
mortos?
9 Bem tinha eu imaginado
que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos;
10 O que também
fiz em Jerusalém. E, havendo recebido autorizaçäo dos
principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisöes;
e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles.
11 E, castigando-os
muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido
demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.
12 Sobre o que,
indo entäo a Damasco, com poder e comissäo dos principais dos
sacerdotes,
13 Ao meio-dia,
ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor
do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo.
14 E, caindo nós
todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica
dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar
contra os aguilhöes.
15 E disse eu: Quem
és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
16 Mas levanta-te
e pöe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te
pór por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como
daquelas pelas quais te aparecerei ainda;
17 Livrando-te deste
povo, e dos gentios, a quem agora te envio,
18 Para lhes abrires
os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás
a Deus; a fim de que recebam a remissäo de pecados, e herança
entre os que säo santificados pela fé em mim.
19 Por isso, ó
rei Agripa, näo fui desobediente à visäo celestial.
20 Antes anunciei
primeiramente aos que estäo em Damasco e em Jerusalém, e por
toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem
a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento.
21 Por causa disto
os judeus lançaram mäo de mim no templo, e procuraram matar-me.
22 Mas, alcançando
socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando
testemunho tanto a pequenos como a grandes, näo dizendo nada mais
do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer,
23 Isto é,
que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreiçäo
dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios.
24 E, dizendo ele
isto em sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo;
as muitas letras te fazem delirar.
25 Mas ele disse:
Näo deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras
de verdade e de um säo juízo.
26 Porque o rei,
diante de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois näo creio
que nada disto lhe é oculto; porque isto näo se fez em qualquer
canto.
27 Crês tu
nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês.
28 E disse Agripa
a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristäo!
29 E disse Paulo:
Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, näo somente tu, mas
também todos quantos hoje me estäo ouvindo, se tornassem tais
qual eu sou, exceto estas cadeias.
30 E, dizendo ele
isto, levantou-se o rei, o presidente, e Berenice, e os que com eles estavam
assentados.
31 E, apartando-se
dali falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada fez digno de morte
ou de prisöes.
32 E Agripa disse
a Festo: Bem podia soltar-se este homem, se näo houvera apelado para
César.
Capitulo 27
1 E, como se determinou
que havíamos de navegar para a Itália, entregaram Paulo,
e alguns outros presos, a um centuriäo por nome Júlio, da coorte
augusta.
2 E, embarcando
nós em um navio adramitino, partimos navegando pelos lugares da
costa da Asia, estando conosco Aristarco, macedónio, de Tessalónica.
3 E chegamos no
dia seguinte a Sidom, e Júlio, tratando Paulo humanamente, lhe permitiu
ir ver os amigos, para que cuidassem dele.
4 E, partindo dali,
fomos navegando abaixo de Chipre, porque os ventos eram contrários.
5 E, tendo atravessado
o mar, ao longo da Cilícia e Panfília, chegamos a Mirra,
na Lícia.
6 E, achando ali
o centuriäo um navio de Alexandria, que navegava para a Itália,
nos fez embarcar nele.
7 E, como por muitos
dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte
de Cnido, näo nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos abaixo
de Creta, junto de Salmone.
8 E, costeando-a
dificilmente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava
a cidade de Laséia.
9 E, passado muito
tempo, e sendo já perigosa a navegaçäo, pois, também
o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava,
10 Dizendo-lhes:
Senhores, vejo que a navegaçäo há de ser incómoda,
e com muito dano, näo só para o navio e carga, mas também
para as nossas vidas.
11 Mas o centuriäo
cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.
12 E, como aquele
porto näo era cómodo para invernar, os mais deles foram de
parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fenice, que é
um porto de Creta que olha para o lado do vento da Africa e do Coro, e
invernar ali.
13 E, soprando o
sul brandamente, lhes pareceu terem já o que desejavam e, fazendo-se
de vela, foram de muito perto costeando Creta.
14 Mas näo
muito depois deu nela um pé de vento, chamado Euro-aquiläo.
15 E, sendo o navio
arrebatado, e näo podendo navegar contra o vento, dando de mäo
a tudo, nos deixamos ir à toa.
16 E, correndo abaixo
de uma pequena ilha chamada Clauda, apenas pudemos ganhar o batel.
17 E, levado este
para cima, usaram de todos os meios, cingindo o navio; e, temendo darem
à costa na Sirte, amainadas as velas, assim foram à toa.
18 E, andando nós
agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.
19 E ao terceiro
dia nós mesmos, com as nossas próprias mäos, lançamos
ao mar a armaçäo do navio.
20 E, näo aparecendo,
havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós
uma näo pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos
salvarmos.
21 E, havendo já
muito que näo se comia, entäo Paulo, pondo-se em pé no
meio deles, disse: Fora, na verdade, razoável, ó senhores,
ter-me ouvido a mim e näo partir de Creta, e assim evitariam este
incómodo e esta perda.
22 Mas agora vos
admoesto a que tenhais bom ánimo, porque näo se perderá
a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.
23 Porque esta mesma
noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,
24 Dizendo: Paulo,
näo temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que
Deus te deu todos quantos navegam contigo.
25 Portanto, ó
senhores, tende bom ánimo; porque creio em Deus, que há de
acontecer assim como a mim me foi dito.
26 E, contudo, necessário
irmos dar numa ilha.
27 E, quando chegou
a décima quarta noite, sendo impelidos de um e outro lado no mar
Adriático, lá pela meia-noite suspeitaram os marinheiros
que estavam próximos de alguma terra.
28 E, lançando
o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante,
tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças.
29 E, temendo ir
dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro áncoras,
desejando que viesse o dia.
30 Procurando, porém,
os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar,
como que querendo lançar as áncoras pela proa,
31 Disse Paulo ao
centuriäo e aos soldados: Se estes näo ficarem no navio, näo
podereis salvar-vos.
32 Entäo os
soldados cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair.
33 E, entretanto
que o dia vinha, Paulo exortava a todos a que comessem alguma coisa, dizendo:
É já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis
sem comer, näo havendo provado nada.
34 Portanto, exorto-vos
a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque
nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.
35 E, havendo dito
isto, tomando o päo, deu graças a Deus na presença de
todos; e, partindo-o, começou a comer.
36 E, tendo já
todos bom ánimo, puseram-se também a comer.
37 E éramos
ao todo, no navio, duzentas e setenta e seis almas.
38 E, refeitos com
a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar.
39 E, sendo já
dia, näo conheceram a terra; enxergaram, porém, uma enseada
que tinha praia, e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio.
40 E, levantando
as áncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras
do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia.
41 Dando, porém,
num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou
imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas.
42 Entäo a
idéia dos soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse,
escapando a nado.
43 Mas o centuriäo,
querendo salvar a Paulo, lhes estorvou este intento; e mandou que os que
pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra;
44 E os demais,
uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que
todos chegaram à terra a salvo.
Capitulo 28
1 E, havendo escapado,
entäo souberam que a ilha se chamava Malta.
2 E os bárbaros
usaram conosco de näo pouca humanidade; porque, acendendo uma grande
fogueira, nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e
por causa do frio.
3 E, havendo Paulo
ajuntado uma quantidade de vides, e pondo-as no fogo, uma víbora,
fugindo do calor, lhe acometeu a mäo.
4 E os bárbaros,
vendo-lhe a víbora pendurada na mäo, diziam uns aos outros:
Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar,
a justiça näo o deixa viver.
5 Mas, sacudindo
ele a víbora no fogo, näo sofreu nenhum mal.
6 E eles esperavam
que viesse a inchar ou a cair morto de repente; mas tendo esperado já
muito, e vendo que nenhum incómodo lhe sobrevinha, mudando de parecer,
diziam que era um deus.
7 E ali, próximo
daquele lugar, havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha,
por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente por
três dias.
8 E aconteceu estar
de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que Paulo
foi ver, e, havendo orado, pós as mäos sobre ele, e o curou.
9 Feito, pois, isto,
vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades,
e sararam.
10 Os quais nos
distinguiram também com muitas honras; e, havendo de navegar, nos
proveram das coisas necessárias.
11 E três
meses depois partimos num navio de Alexandria que invernara na ilha, o
qual tinha por insígnia Castor e Pólux.
12 E, chegando a
Siracusa, ficamos ali três dias.
13 De onde, indo
costeando, viemos a Régio; e soprando, um dia depois, um vento do
sul, chegamos no segundo dia a Potéoli.
14 Onde, achando
alguns irmäos, nos rogaram que por sete dias ficássemos com
eles; e depois nos dirigimos a Roma.
15 E de lá,
ouvindo os irmäos novas de nós, nos saíram ao encontro
à Praça de Apio e às Três Vendas, e Paulo, vendo-os,
deu graças a Deus e tomou ánimo.
16 E, logo que chegamos
a Roma, o centuriäo entregou os presos ao capitäo da guarda;
mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado
que o guardava.
17 E aconteceu que,
três dias depois, Paulo convocou os principais dos judeus e, juntos
eles, lhes disse: Homens irmäos, näo havendo eu feito nada contra
o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém,
entregue nas mäos dos romanos;
18 Os quais, havendo-me
examinado, queriam soltar-me, por näo haver em mim crime algum de
morte.
19 Mas, opondo-se
os judeus, foi-me forçoso apelar para César, näo tendo,
contudo, de que acusar a minha naçäo.
20 Por esta causa
vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel
estou com esta cadeia.
21 Entäo eles
lhe disseram: Nós näo recebemos acerca de ti carta alguma da
Judéia, nem veio aqui algum dos irmäos, que nos anunciasse
ou dissesse de ti mal algum.
22 No entanto bem
quiséramos ouvir de ti o que sentes; porque, quanto a esta seita,
notório nos é que em toda a parte se fala contra ela.
23 E, havendo-lhe
eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos
quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los
à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos
profetas, desde a manhä até à tarde.
24 E alguns criam
no que se dizia; mas outros näo criam.
25 E, como ficaram
entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou
o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías,
26 Dizendo: Vai
a este povo, e dize: De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis;
E, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis.
27 Porquanto o coraçäo
deste povo está endurecido, E com os ouvidos ouviram pesadamente,
E fecharam os olhos, Para que nunca com os olhos vejam, Nem com os ouvidos
ouçam, Nem do coraçäo entendam, E se convertam, E eu
os cure.
28 Seja-vos, pois,
notório que esta salvaçäo de Deus é enviada aos
gentios, e eles a ouviräo.
29 E, havendo ele
dito estas palavras, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
30 E Paulo ficou
dois anos inteiros na sua própria habitaçäo que alugara,
e recebia todos quantos vinham vê-lo;
31 Pregando o reino
de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor
Jesus Cristo, sem impedimento algum.